Eternidade

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Andando em meio as luzes da cidade, sem nada na cabeça. Na noite somente o vento gelado de inverno é a companhia. Seus olhos passam por árvores, carros passam indiferentes aos pedestres. Passos largos, respiração pesada, uma pequena garoa bate nas abas negras do chapéu. Sempre pensou em deixar de usar chapéu. Nunca teve coragem, não quer mostrar aquilo que o tempo impôs à ele.

A rua deserta, adentra uma praça. Cantarola uma melancólica melodia, anos de pensamentos inundam o transeunte. Apenas uma coisa em mente. Sobreviver.

Mas sobreviver à que? Já não sabia nada da vida. Tudo havia mudado em pouco tempo. Menos que 3 anos na verdade. Maquinas estavam tomando conta, ele não se adequara. Estava obsoleto, assim como maquinas também ficam. Andando ainda sem destino. Não sem destino, o destino é sua casa qe está muito longe. Quais pensamentos o atormentavam mais? Nem mesmo ele sabe. Tudo que pensa é em como passar sua vida daqui pra frente.

A alguns anos, uma guerra civil acabou com metade do seu pais. Não sabe como sobreviveu, apenas que era um dos ultimos sobreviventes daquele que foi o maior confronto da guerra. Sua cidade foi dizimada. Na época era apenas um moleque, e assim que chegaram as forças separatistas fugiu com a familia. A unica lembrança desse dia, foi um clarão. Logo depois um grande tremor na terra, como se um terremoto houvesse atingido o mundo. Depois disso, o silencio.

Uma bomba explodiu tão perto que ele não conseguiu ouvir a agonia de vozes. Tem até hoje a lembrança da luz branca. E percebe-se em meio a esta mesma cidade, ja parcialmente reconstruida. Lagrimas de anos chegam a seus olhos, mas logo são levadas pelas gotas da chuva. A praça está vazia a noite. Na verdade, nunca estava cheia como a tempos.

Passa pelo resto de um parquinho de diversões. Lembra-se de seu primeiro amor, declarado num desses parquinhos. Feliz sorri para a noite. Tira o chapéu, senta-se numa gangorra onde brincou ha muito tempo. Lembra-se de sua mulher, deve estar preocupada. Não está em casa a dias. Levanta-se e aperta o passo. Numa jornada sem volta. Voltando para seu lugar.

Apenas alguns metros. Quase corre com pressa, tira a chave do bolso, seu coração apertado e aflito. A luz está acesa. Abre a porta. Fecha-a, ninguem na sala. Ouve algum burburinho na cozinha. Vai olhar, de costas está a pessoa que compartilhou tudo com ele nos varios anos que se passaram. A quem ele devia boa parte de seu carater. E uma grande desculpa, uma desculpa por não ser melhor.

Lagrimas mais uma vez passam por seu rosto, olha novamente a cozinha, seus ladrilhos vermelhos no chão, parecidos com tijolos. O azul céu dos azulejos. Sorri em meio as lagrimas. Abraça aquela que não mediu esforços em aguentar as incertezas da vida juntamente com ele. Lagrimas se misturam de ambos. Trocam pequenas palavras de carinho e perdão. Sentam-se para conversar. Conversam muito tempo, afinal havia anos que não se falavam tanto, devido ao desgaste do relacionamento.

Ele toma banho, relaxante e acolhedor. Assim que sai, a cama está preparada para uma boa noite de sono. A primeira em algum tempo. A mulher espera, ansiosa por seu amor. Falam banalidades ja deitados. Apagam as luzes. Emoção estampada nos dois rostos. Dormem, dormem muito.

Dormem até a eternidade...

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